A REVOLTA DOS MALÊS
2019
v
A
Revolta dos Malês foi um movimento que ocorreu na cidade de Salvador –província
da Bahia– entre os dias 25 e 27 de janeiro de 1835. Os principais personagens
desta revolta foram os negros islâmicos que exerciam atividades livres,
conhecidos como negros de ganho (alfaiates, pequenos comerciantes, artesãos e
carpinteiros). Apesar de livres, sofriam muita discriminação por serem negros e
seguidores do islamismo. Em função destas condições, encontravam muitas
dificuldades para ascender socialmente.
A
identidade étnica e religiosa desempenhou um papel importante na criação do
movimento. A revolta foi marcada para o mês sagrado do Ramadã, mês em que os
muçulmanos fazem jejum. E o dia da revolta foi o domingo de 25 de janeiro, que
era para os cristãos baianos o dia de Nossa Senhora da Guia.
A
época em que o levante acontece é conturbada no país em geral. Após a
independência em 1822, muitos conflitos e divergências surgem. Nas primeiras
décadas do século XIX, a região da Bahia estava em destaque no plano nacional.
A economia açucareira escravocrata do Recôncavo, região que circunda a Baía de
Todos os Santos, era um dos motores do Brasil e concentrava muitos engenhos. Em
decorrência, Salvador tinha muitos negros africanos traficados, que chegavam ao
Brasil para trabalhar nos engenhos de açúcar e produção de tabaco para
exportação para a Europa.
A
Revolta dos Malês não foi o único levante na Bahia. Desde que a escravidão
começou no Brasil, muitos movimentos aconteceram, tendo em comum justamente o
descontentamento de escravos com a situação que viviam. No entanto, quando se
trata do estado em específico, há um momento chave que determina uma mudança no
comportamento dos cativosː a mudança de século do XVIII para XIX. O sentimento
de revolta entre a sociedade se intensifica nesse período. Em consequência,
vários movimentos armados aconteceram, por diversos fatores – esse conjunto de
fatores desencadeiam em um clímax em 1835, justamente na Revolta dos Malês. A
repressão para com o levante dos muçulmanos consolida um Estado monárquico,
escravocrata e autoritário.
Entre
os nagôs havia aqueles que eram devotos dos orixás, do Candomblé, embora
tivessem proximidade com o Islã e em sua maioria fossem muçulmanos. Ou seja,
era uma mescla de crençasː os rebeldes, mesmo os que seguiam as diretrizes do
candomblé, andavam com amuletos malês (muçulmanos) que eram uma espécie de
proteção divina, por exemplo. Nesse encontro das duas religiões (do Candomblé e
do Islã), os nagôs (malês e filhos de orixá) formavam um ponto de convergência
que foi útil para a unidade da revolta, mesmo sem ter tido sucesso. Malês e
adeptos do Candomblé se misturavam como pessoas que tinham em comum o mesmo
idioma, algumas histórias de vida e até divindades africanas.
Os
nagôs que viviam em Salvador e participaram da revolta eram em sua maioria da
região sudeste da Nigéria e da parte leste de Benim. Eles viviam em diversos
reinos como Oió, Queto, Egba, Yagba, entre outros, dentro desse território que
considerava os dois países. Durante anos, Oió dominava os outros reinos. No
entanto, na década de 1830 uma série de guerras começou instituindo uma desintegração
dessa federação que incluía várias dessas monarquias. Essas lutas e
desentendimentos entre os impérios e suas lideranças transformaram milhares de
pessoas que viviam nas regiões em prisioneiros, que eram vendidos como escravos
aos traficantes do litoral, e a maioria deles eram exportados para a Bahia,
chegando em Salvador.
v CAUSAS E
OBJETIVOS
Os
revoltosos, cerca de 1500, estavam muito insatisfeitos com a escravidão
africana, a imposição do catolicismo e com o preconceito contra os negros. Portanto,
tinham como objetivo principal à libertação dos escravos. Queriam também acabar
com o catolicismo (religião imposta aos africanos desde o momento em que
chegavam ao Brasil), o confisco dos bens dos brancos e mulatos e a implantação
de uma república islâmica.
v
Os
rebeldes foram para as batalhas vestindo um abadá branco, tipicamente
muçulmano, além dos amuletos malês no pescoço e nos bolsos. Alguns deles tinham
rezas e passagens do Alcorão. Os amuletos eram feitos por artesãos muçulmanos,
em sua maioria líder do levante, era uma forma de abençoar aqueles que iam à
luta em busca da vitória. Além disso, eles usavam colares de búzios, corais, miçangas
e os anéis brancos.
A
revolta estava planejada para acontecer logo pela manhã do dia 25, hora a que a
maioria da população ia para a Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, deixando o
centro da cidade vazio. A ideia era começar quando os escravos saíssem para
buscar água das fontes públicas, ficando mais fácil reunir parte dos
envolvidos. Após o início da revolta, surgiriam incêndios em diversos pontos da
cidade para distrair a atenção da polícia. O plano era partir do Centro da
Cidade de Salvador, seguir para Vitória, depois Conceição da Praia, Taboão e
Pilar e terminar em Bonfim. Em cada local havia grupos de rebeldes prontos para
se unir com o grupo que vinha do centro.
No
entanto, a revolta não correu como planejado. Na tarde do dia anterior ao da batalha,
surgem rumores de que escravos iriam realizar uma revolta. Um pouco mais tarde,
ainda no dia 24, às dez horas da noite, o prefeito de Salvador, Francisco de
Souza Martins, recebeu uma denúncia anônima sobre a revolta e enviou um aviso
ao então chefe da polícia, Francisco Gonçalves, dizendo para fazer a ronda em
todos os distritos da cidade com patrulhas dobradas. A ordem era deter qualquer
habitante suspeito ou em posse de armas. Às onze horas e alguns minutos,
Martins enviou outro aviso, mas agora direcionado aos juízes de paz da cidade.
O
episódio principal da revolta aconteceu quando oficiais chegaram na região da
Ladeira da Praça, onde um dos grupos dos rebeldes estava reunido. Cerca de 60
homens improvisaram um ataque e após o desenrolar da batalha os rebeldes
seguiram para a Câmara Municipal, onde queriam libertar um dos líderes dos
malês, Pacifico Licutan, que se encontrava preso no subsolo do edifício
(Licutan seria leiloado para saldar uma dívida do seu senhor). Porém, o ataque
para resgatá-lo não deu certo e o grupo rebelde foi surpreendido pelos oficiais
do governo.
A
cidade virou um caos, com várias batalhas em diferentes pontos, mas a última
delas acontece quando os rebeldes se depararam com o quartel da cavalaria na
região Água de Meninos. É esse o momento final da revolta, quando os malês são
derrotados. Os rebeldes foram vencidos e levados a julgamento.
v CONSEQUÊNCIAS
Armados
com facas, lanças e espadas, os negros enfrentaram corajosamente os soldados
armados com pistolas e garruchas. A ordem do governo era a de desmantelar todo
o movimento antes que ele se alastrasse por toda a província. A violência dos
combates provocou a morte de sete soldados e cerca de cem revoltosos.
Os
líderes do movimento foram julgados e condenados a pena de morte. Em março de
1835, centenas de negros foram deportados para a África, muitos voltaram para
suas terras de origem.
Entre
as ações que objetivavam evitar novas revoltas, o governo proibiu que os negros
muçulmanos circulassem pelas ruas de Salvador à noite e que praticassem seus
rituais religiosos. Segundo o historiador João José dos Reis, a expulsão dos
africanos fazia parte de uma tentativa das autoridades baianas de branquear a
sociedade.
As
notícias relacionadas à Revolta dos Malês se espalharam por todas as províncias
brasileiras, o que motivou os senhores escravocratas a intensificarem a
vigilância e os castigos impostos aos negros africanos e seus descendentes.
Na época, A Revolta dos Malês
causou verdadeiro pânico na sociedade, afinal foi estruturada e organizada
apenas por africanos escravizados e libertos, e mesmo não obtendo sucesso a
revolta dos Malês abalou fortemente as elites baianas e deixou no ar a
possibilidade de uma futura revolta geral entre os outros escravos.
v CURIOSIDADES
w Existia
uma sociedade secreta numerosa e bem organizada, revelam os documentos, era
dividida em círculos com hierarquia de categorias. Cada círculo tinha cinco
membros, o chefe recebia ordens do mandante superior, que era comandado pelo
chefe principal. Grande parte desses participantes era de escravos malês. Eles
tinham Santo Antônio como protetor. As organizações eram feitas tão
misteriosamente que os chefes supremos não foram descobertos até hoje.
w Uma
das técnicas de luta usadas na revolta dos malês foi a capoeira.
w Entre
os mortos e feridos da batalha, um livrinho escrito em árabe com trechos do
Alcorão foi encontrado no pescoço de um malê baiano.
v BIBLIOGRAFIA
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<https://static.mapasapp.com/images/brasil/bahia/map-ba.png>. Acesso em 16
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Acesso em 16 mai. 2019.
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SANGUE DO POVO. 3 Curiosidades
sobre a Revolta dos Malês em:
<http://asrevoltasbrasileiras.blogspot.com/2011/03/3-curiosidades-sobre-revolta-dos-males.html?m=1>.
Acesso em 16 mai. 2019.
VEJA TAMBÉM: http://educacao3.salvador.ba.gov.br/adm/wp-content/uploads/2015/05/a-revolta-dos-males.pdf
https://link.springer.com/referenceworkentry/10.1007%2F978-3-319-08956-0_282-1
https://www.scielo.br/j/topoi/a/CCkcVFtgRYrPLfKYSmyrGDQ/?lang=pt#
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